Eu tive a real sensação de estar dentro de um filme quando desci do ônibus e caminhei para a entrada da escola que ficaríamos por uma semana antes de iniciar o programa de AuPair. Os prédios eram grandes e com uma arquitetura totalmente diferente do que eu estava acostumada, as cores eram mais foscas e as árvores não tinham folhas, apenas um marrom vibrante que se escondia no meio da névoa causada pelo frio. Percebi que o frio estava mais intenso. Me lembrei que precisaria de roupas adequadas para o inverno e para a neve... Ah! Como eu estava ansiosa para ver neve pela primeira vez! Caminhamos juntas para a sala de entrada e pela primeira vez eu me apresentei em inglês. E foi um fracasso. Eu quase não soube como responder o meu próprio nome. Fiquei decepcionada por um instante, mas eu sabia que um dos motivos da minha viagem era o aprendizado do inglês e eu me empolguei com a ideia de falar inglês novamente. Andamos até um corredor que parecia não ter fim e então, o momento mais esperado da escola de treinamento; conheci a minha roommate, ou melhor, colega de quarto. Fiquei muito animada por dividir essa experiência com alguém de outro país, e pensei que aquela pessoa até então desconhecida, estaria para sempre na minha memória como uma lembrança boa de um dos momentos mais especiais da minha vida. E esse era um pensamento quase que constante: a ideia de criar novas memórias e conhecer novas pessoas todos os dias me fazia sorrir sem querer. Eu estava fascinada com a ideia de viver novas aventuras, conhecer novas pessoas e ser livre para criar uma nova versão de mim. Começamos as aulas e tudo era incrivelmente interessante. Nunca estive tão atenta em minha vida. Eu ouvia cada palavra com atenção e tentava repetí-las em minha mente para que o meu vocabulário em inglês se expandisse. Me perdia entre um pensamento ou outro com lembranças de casa e saudade de quem sempre esteve ao meu lado. Como eu queria que meus pais estivessem ali comigo, mas eu sabia que todo esse esforço e distância valeria a pena. Acabaram as aulas e fomos até o refeitório que era mais uma cena típica de filme americano. Eu fotografava tudo com o entusiasmo de uma criança de seis anos. Parecia um sonho e eu tinha a sensação de que seria acordada a qualquer momento. Os primeiros dias na escola de treinamento foram como um sonho em que você acorda e quase não se lembra do que aconteceu, justamente porque estava sonhando. Fiz muitas amizades, conheci pessoas do mundo inteiro. Fracassei no inglês inúmeras vezes, mas a cada vez eu tentava aprender algo novo e pensar que esse era o objetivo maior, ou até então era o que eu acreditava. O fato de estar totalmente imersa no idioma me fazia ter dores de cabeça, mas até as dores de cabeça me faziam feliz naquele momento. Nada poderia me desanimar. O que eu não esperava, era que em algumas semanas toda a minha vida iria mudar. Não só a minha vida, mas a vida do mundo todo...
Este blog surgiu em um dos momentos mais sensíveis da minha vida e não é à toa que sempre que eu me sinto sufocada eu me vejo aqui, pronta para me libertar. Volto aqui para me lembrar de que tudo ficará bem. Que tudo vai passar. Só que desta vez, os sentimentos mudaram. Estou aqui, pronta para compartilhar que tudo ficou bem, que tudo passou e que eu estou pronta para escrever mais um capítulo da minha vida.
Nos últimos dias eu tenho percebido que muitas coisas mudaram internamente em mim. Depois de alguns meses aprendendo a cuidar de mim, eu consegui enxergar que o amor maior deve vir de dentro. De dentro de nós. Consegui finalmente enxergar que se eu não me amar, ninguém o fará por mim. Aprendi que me amar e me valorizar é a chave para que tudo fique bem, por dentro e por fora. Enquanto me preocupava com os outros, esqueci de me preocupar comigo. Enquanto amava o outro, esqueci de me amar. Uma longa jornada de aprendizados me fez enxergar que eu tenho o amor e a coragem que eu sempre busquei em outras pessoas.
Você está onde você quer estar? Por muito tempo eu busquei o meu lugar no mundo e precisei viajar milhares de quilomêtros para finalmente entender que "a nossa mente é o nosso lar". Tatuei essa frase alguns meses atrás, porque apesar de ser uma das minhas músicas favoritas; também me fez refletir que não importa em qual lugar do mundo a gente se encontre, se você não estiver bem, nada vai te fazer feliz. E a mesma frase que eu cantei inúmeras vezes sem perceber, me abriu os olhos para um amor que eu havia esquecido... O amor próprio. Eu estou exatamente onde eu gostaria de estar. E não me refiro ao país. Me refiro ao momento da minha vida em que os meus sonhos me completaram de uma forma que eu jamais imaginei. O momento da minha vida em que eu aprendi a amar o presente. Aprendi que cada fase da vida é única e que devemos aproveitar ao máximo cada uma delas.
E não é somente sobre estar, mas sobre ser. É sobre ser quem você é, sem medo do que a vida vai dizer. É sim sobre ter sonhos, mas também é sobre ser corajoso o suficiente para ir em busca de todos eles. Voltei, desta vez com a intenção de ficar um pouco mais. De abrir mais algumas "gavetas" e escrever sobre tudo que vêm me fazendo mais feliz e mais completa ultimamente. E eu tenho tanto para dizer, ou melhor; escrever. Estou pronta para os próximos capítulos.
Primeira foto no Central Park em New York City. Fevereiro, 2020. |
A primeira viagem de avião é inesquecível! Foto feita por mim. Fevereiro, 2020. |
Centennial Park em Nashville, Tennesse. Março, 2022. |
Motivada por reencontrar uma parte de mim que se perdeu com o passar do tempo, abro o meu coração e o meu espaço na internet outra vez para escrever sobre a história da minha vida. Abri os meus sentimentos para o mundo pela primeira vez há dez anos atrás, buscando etenizar em palavras tudo que já não cabia mais dentro de mim. A escrita me permitiu viver experiências que eu jamais imaginei, como participar de eventos literários importantes, conversar e inspirar centenas de jovens e conhecer uma das minhas autoras brasileiras favoritas.
No entanto, não estou de volta para escrever sobre como tudo isso mudou a minha vida, mas para me lembrar de quem eu sou, quem eu me tornei e quem eu desejo ser. A história da minha vida não é simples, em vinte e seis anos eu já vivi o suficiente para uma vida inteira. O suficiente para escrever o livro da minha vida e inspirar todos aqueles que são tão sonhadores quanto eu.
Uma das lições mais valiosas que eu aprendi na vida é que não basta apenas sonhar, temos que usar todas as nossas forças em busca da realização destes sonhos, e é cansativo. É frustrante. Acabamos nos deixando levar por uma rotina fácil e agradável com medo de que um dia tenhamos que sair da zona de conforto. E é assustador ter que começar tudo outra vez; porém, é gratificante olhar para trás e enxergar todos os obstáculos que já enfrentamos buscando a felicidade e a realização de sonhos que pareciam extremamente loucos, mas no final você percebe que eles foram reais e que a sua vida teve mais sentido depois que você os realizou. E é como eu sempre digo: A maior aventura da vida é viver. Viver o melhor que você conseguir, todos os dias.
Eu só percebi que poderia escrever a minha própria história dez anos atrás, quando eu iniciei uma página na internet e escrevi abertamente sobre quem eu era, quem eu queria ser e tudo que me tornava especial. Escrevendo aqui na internet, eu percebi que era capaz de qualquer coisa. E chegou a hora de encontrar esse sentimento outra vez. Chegou a hora de abrir as gavetas e recomeçar. Contar tudo que aconteceu até aqui. Todos os sentimentos, aventuras, decepções, erros e aprendizados. Todas as conquistas. Chegou a hora de abrir o meu coração outra vez e deixar que as palavras me inspirem na criação do próximo capítulo da minha vida.